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  • Adriel Henrique

Moda e Arquitetura: formas que se completam

Atualizado: 8 de jun. de 2021

Não é de hoje que moda e arquitetura caminham de mãos dadas. Pode-se notar essa relação desde a Grécia antiga, onde a maior influência da moda era a arquitetura, que se refletia no vestuário da época. Existiam três tipos de peças: o quíton, o peplos e o himation.


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Indumentária grega. Fonte: https://www.pinterest.com.au/pin/354447433147097226/

O quíton era uma túnica feita com dois grandes tecidos retangulares, presos sobre os ombros e embaixo dos braços; o peplos difere visualmente das demais, sendo feita de um grande tecido retangular preso nos ombros; o himation era uma simples capa que desempenhava o papel de um manto, envolvendo todo o corpo. O vestuário era influenciando principalmente pelas ordens da arquitetura grega, sendo a Dórica mais sóbria, trazendo simplicidade e severidade ao ambiente, expressando solidez e imponência; a ordem Jônica representa a graça e a feminilidade, expressas no capitel formado por duas espirais unidas com curvas, transmitindo a mesma ideia para os penteados. Entretanto, pode-se acompanhar um desenvolvimento ao longo dos séculos. Antes das vitorias gregas sobre os persas, homens e mulheres usavam cabelos compridos acompanhando a grandiosidade das colunas, mais tarde, cabelos longos eram adequados apenas para meninos e mulheres.


Na primeira metade do século V a.C. as mulheres amarravam os cabelos com uma fita, e com o passar dos anos isso se tornou habitual. Após a conquista dos romanos, os penteados se tornaram muito mais variados e elaborados, sendo frisados e cacheados. Buscava-se inspiração na ordem Coríntia, que era formada com folhas de acanto e quatro espirais, transmitindo luxo e ostentação.


Sendo assim, a moda e a arquitetura seguem a mesma linha de raciocínio, baseando-se em formas, linhas, cores, volumes e texturas, ambas expressam as ideais e opiniões de uma sociedade, assim como os ideais do momento que estão vivendo. Um exemplo desta relação entre moda e arquitetura foi o período Barroco, onde as construções contavam com formas clássicas, ao mesmo tempo que rejeitava os princípios de simetria, sendo as características mais marcantes a extravagância e o exagero aplicados nos ornamentos e decorações. Reflexos dessa arquitetura podem ser vistos também na forma de se vestir. Esse novo movimento artístico tira o homem do centro do universo para exaltar os mistérios de Deus e da Igreja, ou seja, o homem rompe com as ideias racionais, simétricas e proporcionais do classicismo greco-romano para adentrar em um movimento profundamente ligado a emoções e sensações. Tudo isso para promover e reafirmar o status, o poder e o domínio.


Devido a isso, os traços do barroco estão presentes em grande parte das igrejas e basílicas de diversas cidades que fizeram parte deste movimento. Sem medo de ousar, o movimento trouxe um estilo cheio de ornamentos e quebras de proporção, com a ideia do movimento expressada no uso de curvas.


No chamado Early Baroque, até 1627, tudo ainda era muito característico da Renascença, e em meio a tantas mudanças, a moda do período barroco é considerada uma evolução natural da moda Renascentista, que contava ainda com a presença do rufo, um tipo de gola engomada e plissada que se popularizou entre a segunda metade do século XVI e a primeira metade do século XVII, que aos poucos foi abaixando e diminuindo, dando lugar às golas e punhos rendados. As mulheres ainda usavam roupas volumosas e pesadas, enquanto os homens vestiam roupas mais enfeitadas com bordados e ornamentos, assemelhando-se às curvas e os exageros da arquitetura.


Os homens usavam cabelos abaixo dos ombros e com grandes cachos, o rosto era barbeado, mas com bigode, e estavam sempre adornados com chapéus de abas largas.

As roupas masculinas eram enfeitadas: constituíam-se de um tipo de bermuda ampla, que dava a impressão de ser uma saia. Era usada com meias de seda coloridas e com grandes laços em renda na borda. As botas eram altas até o joelho. Gradativamente, o rufo dá lugar ao jabô (um babado de renda ou lenço preso ao peito ou ao pescoço), e um longo casaco até os joelhos. A imagem dos Três Mosqueteiros representa fielmente o vestuário desse período.


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Imagem dos três mosqueteiros. Fonte: http://maribonawitz.blogspot.com/2018/05/moda-barroco.html

Quando Luís XIV sobe ao trono da França, sua vaidade leva a diversas mudanças no mundo da moda. A mais marcante delas é o uso de perucas, já que o Rei era careca, e o uso de sapatos masculinos com saltos mais altos, já que ele também era mais baixo que a média. Todos os outros países da Europa passam a ver essas mudanças como tendências e a França torna-se então o país lançador da moda. A partir daí, dá-se início ao Late Baroque, que se distancia do estilo renascentista e se aproxima do que conhecemos como estilo Rococó.


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Luís XIV. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lu%C3%ADs_XIV_de_Fran%C3%A7a

A moda feminina tinha volume nos ombros e mangas bufantes que terminavam abaixo do cotovelo; as golas eram caídas e com bordas de renda. O traje era composto por camisa de linho, espartilho com decote baixo e ombros expostos. O corpete era em formato “V”, decorado desde o decote até a cintura, a saia possuía uma abertura no meio, deixando exposta as anáguas, camadas de tecido utilizadas para dar volume ao vestido, decoradas com laços e fitas. Utilizava-se até oito anáguas, sustentadas pelo farthingale, aros de ferro que ampliavam e elevavam a saia, e sapatos de salto. Os cabelos eram repartidos ao meio e com cachos até os ombros, e só por volta de 1690 os cachos passaram a cair sob a testa. Usava-se o fontage, uma espécie de chapéu estruturado com arame e enfeitado com babados de gaze e rendas na vertical.


Todo esse luxo e ostentação é um reflexo do contexto cultural de uma sociedade que respirava o luxo. Toda essa ornamentação era também concretizada no palácio de Versalhes com a riqueza de detalhes.


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Salão do palácio de Versalhes. Fonte: https://www.vemcomigo.fr/roteiros/guia-palacio-de-versalhes/

O documentário O palácio de Versalhes, disponível no YouTube, mostra como era o reparo das peças do palácio, assim como a sua manutenção, ficando evidente a sua opulência e ostentação.



Todos esses detalhes e ornamentos são transmitidos para o vestuário como inspiração através de linhas e formas, trazendo sensações através das texturas e aguçando o sentido do indivíduo.


Referências

  • Livro - A roupa e a moda / autor: James Laver /1ª edição publicado em 1989

  • Artigo científico – Moda e arquitetura – Conexões possíveis / autores: Cláudia de Castro Correia, Rita Cláudia Aguiar Barbosa, Maria Dolores de Brito Mota y Walkyria Guedes de Souza / publicado 8 de janeiro de 2014

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